quinta-feira, 11 de outubro de 2012

(des)espera

Nascer marciana, de final de verão, já me deu essa propensão a nunca ser. Agora, em tempos de primavera, não consigo me assistir não poder ser sem você. Minha vontade é ignorar os ipês florindo e todo mundo sorrindo com o fim do ano que se aproxima. Estou preocupada é com outro fim.
Faço greve de fome e de flores, esperando um milagre que não deve chegar. Eu saboto minha esperança e depois choro de culpa por seu desamor - fui eu quem fez tudo desmoronar.
Quando se é prisioneiro de si, a quem se deve pedir piedade?

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Outro poema do papai

Esse meu pai nem sabe que eu to triste hoje, mas, sem querer, vai e me manda outro poeminha:


Os homens que me perdoem
Mas, são as mulheres que conseguem
Usar o corpo para reproduzir
Todo o movimento da vida
São elas que conseguem
Incorporar os movimentos de vai-e-vem
Do fluxo e refluxo constante
São como as ondas do mar
Esse mar de minha Praia do Forte
Ah! As mulheres
Como eu as amo!
Mas sou prisioneiro de uma só
Sou cativo da minha Neguinha
Quantas vezes pensei
Em ser dono de mim mesmo
Mas descobri que a dona do meu eu é ela
E acho que ela nem sabe
Da propriedade que tem sobre mim
Mas, seja como for,
Na figura da minha Neguinha
Eu amo todas as mulheres

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Aperto


Lábios rachados, sem beijos
Sem jeito
Secos de desejo,
De palavras

Transbordo do avesso
E não entendo muito bem
De dentro pra fora
Explode o que eu não vejo

Eu quase cedo a uma dor que não sei explicar
Uma falta de algo que sei que está lá
No meio do medo do que eu não conheço

Eu sobro em mim mesma

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Poema do papai

Então, meu pai fez um poema lindo lindo lindo, então (com prévia autorização dele) decidi postá-lo aqui para compartilhar o meu orgulho *-*


GRITO CONTIDO

O que é isso que me sufoca,
Que me deixa com vontade de fugir,
Sabe Deus pra onde?
Que sensação é essa que me faz procurar qualquer lugar,
Sem saber o que procurar,
Sem querer saber onde estar?
Que força é essa que arrebata minhas emoções
E desperta minhas recordações?
Eu, menino despreocupado brincando lá fora
Minha mãe chamando: “entra, menino; toma teu banho; vai deitar”
Os sonhos que projetam meus desejos
Será que vou realizá-los?
Engraçado. Será que fujo para o ontem?
O que deixei para trás?
O que ficou incompleto?
Pena; a vida é curta.
Não dá pra recuperar quase nada
Olho no espelho e não acredito
Que aquele que me olha sou eu
Não pode ser!
Ainda sou aquele menino que brinca lá fora
Que a mãe chama pra dentro
Mas o que me olha no espelho tem os meus olhos
Não tem a minha pele, o meu vigor
Sinto pena dele; Parece tão triste
Acho que é por isso que ele busca
Aquilo que nem ele sabe
Talvez ele busque o menino que eu sou.

Rubens Gomes Carneiro Filho

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Alado

Quem são os homens pássaro?
É errado querer voar?
Eu ando tão aérea, não estou nem aqui
Estou em outro lugar onde eu possa fugir de mim
Já nem sei há quanto tempo não visito meu lar, até perdi o endereço
Passarinho não chora
Passarinho que chora se afoga em seu mar particular
Eu não sou passarinho, já não sei voltar pra casa
Eu só sei voar.

terça-feira, 19 de junho de 2012

No basculante

A fé que o felino tem na noite me assusta. Ele se arrisca sem saber. É estranho ter medo e fé ao mesmo tempo, e ele nem sabe que as tem, só vai.
Gateando, se esgueirando, sempre que digo que não. O fascínio pela noite fora do apartamento supera o medo instintivo da morte.
A curiosidade não mata o gato, mata a dona de preocupação. Ele vai, pula a janela e cai como uma pluma. Eu não vou, não voo, só me esborracho no chão!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Lágrimas vencidas

Qual é a validade de uma lágrima? Quanto tempo ela aguenta dentro de nós até transbordar?
Vai que quem chora sem razão na verdade só esqueceu de sua dor, deixou passar, mas a lágrima ficou lá, sem derramar. Até que um dia ela cai e a gente já não sabe mais, acha que ficou maluco e se culpa mais um pouco...
Será que lágrima expira?

Ou inspira?

Will I survive?

Meu corpo está gritando por dentro.
Eu finjo não ouvir... já nem me lembro há quanto tempo eu ignoro o que se passa por aqui. Vou adiando minha vida, dia a dia, até não dar mais. Ainda sem querer morrer.
Eu sobrevivo pra que?

Evaporar?

Mais um blog, mais uma justificativa. Desta vez eu vim tentar reaver o que eu perdi há alguns anos - minha poesia.
Algumas inseguranças me fizeram fechar-me numa crosta, fui me perdendo e agora eu preciso de todas as minhas fraquezas de volta. Quero estar à flor da pele, quero que minha superfície evapore para que eu possa me reencontrar.
A inspiração veio de uma prosa que fiz alguns anos atrás, numa retroalimentação poética, por assim dizer.
Eis a fonte:


Insípida?


Eu e minha incerteza a respeito de quem sou. Não penso! Que se penso, de confusa evaporo. Eu choro! Choro e escorro pela minha própria face. É esse não saber que me afeta e me resseca e me faz querer chover. Como pode um ser não saber quem é? Será que alguém sabe?
É que eu queria ser transparente. Não refletir feito espelho d'água o que os outros sentem. Nem escapar por entre os dedos de quem tenta me conter. Bobagem! Que seu fico de fato transparente, como é que eu vou reconhecer meu rosto? Minha personalidade corrente como um rio bravo. Meu humor - maré inconstante - que responde à luz da lua. Eu, paradoxo cristalino, feito um laguinho de jardim, por vezes absorvo uma constância fora de mim, a calma concedida por um dia ensolarado. Os mesmos raios de sol que, às vezes, me arrancam a máscara molhada e tornam vapor minha superfície.
Aí, então, só me resta o fundo. Voltar-me para dentro de mim. A velha conhecida cachoeira que cai do meu peito e inunda tudo o que não sei que sou. É um mar de sentimentos  em que eu insisto em naufragar. Eu não tenho medo de transbordar no meu sentir. Túrgida de mim. Um dia arrebento a represa e me afogo sem temor. Porque o ciclo continua.


Porque o ciclo precisa continuar.